Nova pesquisa da UnB aponta a desigualdade no acesso à cultura no DF
A nova pesquisa do Observatório de Políticas Públicas do Distrito Federal (ObservaDF), projeto vinculado à Universidade de Brasília (UnB), investiga os hábitos culturais dos moradores do DF e alguns de seus determinantes sociodemográficos. No total, mil pessoas foram entrevistadas entre março e abril de 2023. A live de apresentação já está disponível no canal oficial do YouTube do projeto.
A nova pesquisa traz dados que foram analisados a partir do cruzamento com variáveis como renda, gênero, raça/cor e região de moradia. Segundo o professor e pesquisador do ObservaDF Frederico Bertholini, os resultados trouxeram um panorama geral não apenas sobre hábitos e consumo, mas também sobre as desigualdades no acesso à cultura que persistem no DF. “Entre as principais conclusões da pesquisa, estão a idade como principal determinante dos hábitos culturais. No entanto, a renda pessoal ainda representa uma limitação de acesso à cultura”, explica o pesquisador.
Bertholini ressalta que pessoas com renda familiar mais baixa participam menos do carnaval, vão menos a shows e ao cinema. Outro ponto importante a ser destacado do estudo são os hábitos culturais dos idosos. “Entendemos que é possível ampliar a oferta de produtos culturais que estimulem a participação de pessoas mais velhas. Parte de um envelhecimento saudável tem a ver com o acesso a diversão, arte e cultura”, ressalta Frederico.
Os dados também mostram que há uma diferença de gênero em relação aos blocos de carnaval. “Menos pessoas identificadas com o gênero feminino disseram frequentar este tipo de evento. Então, levanta-se a questão da importunação sexual e assédio. É possível que elas se sintam inseguras e menos estimuladas a participar, dado o eventual risco de sofrerem violências de gênero”, afirma o professor.
Cinema
De acordo com os dados, os moradores de Brasília vão ao cinema uma vez a cada 4 meses, o que representa uma média de 0,7 vezes em 3 meses. A frequência ao cinema está majoritariamente ligada a dois fatores: idade e renda familiar. Pessoas de 60 anos ou mais vão ao cinema uma vez por ano; pessoas entre 45 e 59 anos vão ao cinema uma vez a cada 10 meses; já pessoas entre 16 e 24 anos vão ao cinema uma vez a cada 2 meses. Ou seja, no intervalo de 3 meses elas vão em média 1,5 vezes ao cinema. “Quando olhamos para o padrão de acesso por renda familiar podemos notar que pessoas vivendo em famílias com renda familiar superior a 10 salários-mínimos vão no cinema uma vez a cada 2 meses, já pessoas de famílias vivendo com até um salário-mínimo vão no cinema uma vez a cada 7 meses”, aponta Frederico Bertholini.
Teatro
A pesquisa mostra também que 87% dos brasilienses não assistiram a nenhuma peça nos últimos 3 meses. Segundo os dados, o morador de Brasília vai ao teatro aproximadamente uma vez a cada 10 meses. Quando falamos de renda familiar de até 5 salários-mínimos, concluiu-se que esse segmento populacional vai ao teatro menos de uma vez por ano. Mesmo entre pessoas vivendo em famílias com renda superior a 10 salários mínimos, a frequência ao teatro é de uma vez a cada 5 meses.
Shows ou festival
O estudo traz ainda quantas vezes os entrevistados foram a um show ou festival de música nos últimos três meses, independente do gênero musical. Neste ponto, permaneceu as grandes diferenças por idade, com os jovens sendo os mais frequentes e os mais velhos sendo os menos frequentes. Chama atenção, ainda, a baixa adesão de evangélicos pentecostais. Em média, eles foram 0,25 vezes nos últimos 3 meses, enquanto pessoas sem religião foram 1,5 vezes em média nos últimos 3 meses.
“A renda também está associada quando falamos dos shows. Moradores de RAs do grupo de renda alta vão mais a shows do que moradores de RAs do grupo de renda média-alta, que, por sua vez, vão mais a shows do que moradores do grupo de RA de renda média-baixa, que vão mais a shows do que moradores dos grupos de RA de renda baixa”, afirma o pesquisador. Outro ponto importante, é a grande disparidade de gênero neste hábito cultural, que pode estar associada a uma sensação de insegurança, neste tipo de evento, das pessoas identificadas com o gênero feminino.
Carnaval
Segundo os resultados, 24% dos moradores de Brasília pularam o carnaval em fevereiro de 2023. Cerca de 19% foram em uma festa, em casa ou na casa de amigos; 11% foram a um bloco de carnaval; 4% a um bloco de carnaval infantil; 7% foram a um baile; apenas 1% desfilou em escola de samba e 12% brincaram em outro lugar qualquer.
Nos blocos de adultos e nos bailes foi identificado as maiores diferenças por perfil sociodemográfico. Sendo assim, ficou bastante evidente o grau de desigualdade na participação da festa, já que, entre moradores de áreas mais ricas, e mais centrais, cerca de 17% foram ao bloco, enquanto nas áreas de renda mais baixa foram apenas 5%. Segue havendo uma divisão importante por idade com os jovens participando mais dos blocos, 21% para pessoas entre 16 e 24 anos; 15% para pessoas entre 25 e 34 anos; 11% para pessoas entre 35 e 44 anos; 7% para pessoas entre 45 e 59 anos e 1% para pessoas com 60 anos ou mais.
A pesquisa mostra também a presença da desigualdade de gênero. “O questionário não fez menções às razões sobre a não participação das pessoas nas atividades, ainda assim, cabe uma importante reflexão sobre a diferença de participação entre pessoas identificadas com o gênero masculino e pessoas identificadas com o gênero feminino, tanto nos blocos de carnaval, quanto em bailes quanto em festas”, explica Bertholini.
Os dados apontam que 14% dos homens foram a um bloco de carnaval, enquanto apenas 9% das mulheres; 10% dos homens foram a um baile e apenas 5% das mulheres; e enquanto 24% dos homens foram a alguma festa, apenas 15% das mulheres participaram.
Pesquisadores
A equipe do ObservaDF conta com os pesquisadores: Lúcio Remuzat Rennó Junior, Ana Maria Nogales Vasconcelos, Andrea Felippe Cabello, Frederico Bertholini e Guilherme Viana. Para receber todas as informações e atualizações sobre o estudo, basta acessar o site oficial.
Serviço
Nova pesquisa da UnB Aponta a Desigualdade no Acesso à Cultura no DF
Informações: www.observadf.org.br
Instagram: @observadf
Live pode ser assistida pelo canal: https://www.youtube.com/channel/UCVBC8b5FQUHtSCpEwKuslzw